O eternamente futuro

2232 palavras 9 páginas
Nietzsche – o eternamente futuro
Não me recordo precisamente em que livro estava, nem seu conteúdo, mas um aforisma de Nietzsche orienta há anos o modo como ensino filosofia. Diz que os filósofos se equivocam ao supor que o valor de seus escritos está no edifício construído, quando o que importa são as pedras que deixam para outros construírem. Para que apresentar algum sistema filosófico, se os filósofos do futuro deveriam ser tentadores, provocando, perturbando, atraindo?
Nietzsche não só questionou a pretensão sistemática; procurou também um novo modo de escrever filosofia, um que permitisse leituras afetivas, por intensidades.
Recuperando o estilo das máximas e do aforisma, seus livros, como poucos, forçam à proximidade do mistério, inquietando-nos com o modo como levamos a vida e convidando-nos a querer mais. Uma experiência talvez comparável à descrita por
Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa) quando lia Walt Whitman: simultaneamente, sentia “uma ereção abstrata e indireta” no fundo de sua alma e queria ser “a rameira de todos os sistemas solares”. Ao invés de “livros de cabeceira”, seus textos são roteiros de viagens, tentando-nos a sair por aí e a desejar a impossível compatibilidade entre a embriaguez e o estudo minucioso.
Ao longo dos anos, como muitos, colecionei alguns fragmentos de Nietzsche que me espantavam. A coleção talvez forme um “retrato falado”; provavelmente constitua só um espelho de meus afetos, mas um espelho mágico, onde me desconheço e me recordo de querer.
Destaca-se da memória o famoso diálogo entre a ave de rapina e os cordeiros em
A Genealogia da Moral. Com argúcia e humor, Nietzsche sabe que cada um de nós, mesmo aquele que se diz o pior dos mortais, se acha o máximo. O que nos diferencia entre nobres e vis é o modo como dizemos sim a nós mesmos. Alguns são como os cordeiros, que precisam negar duas vezes para construir a afirmação de si. Num raciocínio aparentemente lógico, os cordeiros acusam a

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