O Dever de ser Ètico

O dever de ser ético
Assim como há escolas e cursos para aprender, deveriam também existir para ensinar a desaprender. Quantas importantes inutilidades valorizamos na vida! Quantos detalhes sugam nossas preciosas energias e consomem vorazmente o nosso tempo! Quantas horas e dias perdemos com ocupações que nada acrescentam às nossas vidas; pelo contrário, causam-nos enfado e nos sobrecarregam de preocupações.
Em se tratando de ética, há sempre muito a desaprender: a esperteza, o espírito de competitividade, o sentimento de vingança, o ímpeto de levar vantagem etc. Tudo isso que nos é imbuído pelo sistema em que vivemos, sistema de lucratividade e competividade, disputa e busca de poder, hedonismo e narcisismo. Por mais vigilante que uma pessoa seja, ela é tributária dessa cultura egocêntrica, arrivista, eivada de preconceitos e discriminações.
Precisamos também desaprender a considerar os bens da natureza produtos de uso próprio, ainda que o nosso uso perdulário se traduza em falta para muitos. Desaprender a valorizar um modelo de progresso que necessariamente não traz felicidade coletiva e uma economia cuja especulação supera a produção. Desaprender a olhar o mundo a partir do próprio umbigo, como se o diferente merecesse ser encarado com suspeita e preconceito.
O desaprendizado é uma arte para quem se propõe a mudar de vida. Nessa viagem, quanto menos bagagem e mais leveza, sobretudo de espírito, melhor e mais rápido se alcança o destino. Vida afora, carregamos demasiadas cobranças, mágoas, invejas e até ódios, como se toda essa tralha fizesse algum mal a outras pessoas que não a nós mesmos. Isso de ética já veio com o meu DNA. Meu pai se destacava por uma honestidade visceral. Voltava à banca de jornal para devolver dois tostões de troco em excesso.
Como juiz, tinha direito a entrar de graça, no cinema, acompanhado de minha mãe. Fazia questão de pagar o bilhete dela.
A porta da Mercearia do Sansão era lugar de encontro de nossa turma de