A literatura popular e o cinema no Brasil

A LITERATURA POPULAR E O CINEMA NO BRASIL
A despeito de todo o esforço para afirmação distintiva do campo literário, a relação dos escritores com outros meios e ofícios é praticamente contemporânea à própria fabulação do conceito moderno de literatura. A democratização e a ampliação da noção literária estão diretamente ligadas ao advento do livro impresso. Pouco adiante, a própria difusão da imprensa vai ajudar a configurar o jornal como lugar de excelência para o encontro do escritor com outras práticas sociais. Essa aproximação foi razão de algumas transformações no estilo e mesmo nos gêneros literários. Os romances incorporaram um tom realista, se folhetinizaram. Novos gêneros começaram a despontar, sendo a crônica possivelmente o mais característico dessa interação. Em Narrativas migrantes: literatura, roteiro e cinema, Vera Follain de Figueiredo aponta para essas mudanças: Em função da nova economia da escrita instalada com a multiplicação e transformação dos jornais, os romances passaram por mutações, em decorrência, inclusive do fato de serem publicados em capítulos, sob a forma de folhetins, nos jornais. Dentre outras alterações, foram divididos em capítulos menores, instituindo-se o gancho entre eles, com o objetivo de estimular a curiosidade do leitor. (Figueiredo, 2010, pg. 12). Em Literatura e Sociedade, Antônio Cândido também se depara com as mesmas questões, - mas em âmbito mais restrito - quando trata de discutir o esforço para instauração de um circuito literário no Brasil. Ao se indagar sobre o papel social do escritor, percebe que o deslizamento entre diversos campos de atuação aqui se apresenta como uma necessidade inescapável. A precariedade do sistema literário impede que se possa imaginar um campo autônomo para essa criação. O diagnóstico de Cândido é cruel, até o fim do século XIX no Brasil o escritor não existia enquanto papel social. Em um país com uma imensa maioria de analfabetos, a literatura ainda era algo a se inventado.