A Distin O Confusa E Nociva Entre Ticas Formais E Ticas Materiais

1267 palavras 6 páginas
A distinção confusa e nociva entre éticas formais e éticas materiais

Estabelece­se por vezes uma distinção entre éticas materiais e éticas formais. Neste artigo, procurarei mostrar que essa distinção é confusa e nociva.

Supostamente, a distinção é esta: há éticas que são formais, como a de Kant, e outras que são materiais, como a de Mill. A de Kant é formal porque é demasiado abstrato para poder gerar regras morais. A de Mill é material porque o faz.
Em primeiro lugar, há que pensar no seguinte: a distinção entre éticas materiais e éticas formais é uma distinção de gênero , ou uma distinção de grau ? Por outras palavras: será que o que se está a dizer é que há dois tipos diferentes de teorias éticas, as formais e as materiais; ou simplesmente que há umas teorias éticas mais formais que outras?

Uma distinção de gênero?
É fácil ver que não pode ser uma distinção de gênero: o próprio Kant achava, como se pode ver na
Fundamentação da Metafísica dos Costumes, que máximas como a de cometer suicídio perante as adversidades da vida não passam o teste do imperativo categórico. Logo, das duas, uma: ou a teoria de Kant não é puramente formal, ou então
Kant cometeu um erro do tamanho do mundo e estava fundamentalmente errado em relação ao objetivo da sua ética.
O lugar­comum que consiste em dizer que a ética de Kant é formal leva­nos a olhar para a ética de Kant de uma perspectiva errada. O único modo de supor que Kant podia aceitar que uma máxima como "mentirei sempre que seja necessário para não ferir os sentimentos das pessoas" seria universalizável seria pensar que a noção kantiana de
"agir por dever" é meramente psicológica: mas não é. O mentiroso benévolo podia até julgar que ao mentir estava a agir por dever. Mas é evidente que Kant pensa que não estaria. Kant defende que só podemos agir por dever quando a nossa ação está de acordo com o dever. Se a ação não estiver de acordo com o dever, então podemos até julgar que

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