A corrosão do caráter

DENISE ZANATTA A corrosão do caráter

Enrico era um faxineiro, por quase vinte anos limpando banheiros e lavando chãos num prédio comercial do centro.
Não reclamava e não tinha o chamado ‘sonho americano’, sendo que, com o seu trabalho tinha o objetivo único e exclusivo de servir a família.
A esposa era passadeira, e eles sempre economizaram para a educação dos filhos.
Viviam uma vida linear e totalmente previsível.
Enrico antipatizava com os negros, com os não italianos e com pessoas de classe média.
Não queria que o filho Rico repetisse sua vida.
E realmente foi o que aconteceu, Rico se dera bem na vida e concretizara assim o desejo do pai, porem, apesar do altíssimo salário e prosperidade, Rico não considerava sua historia feliz.
Por mais prósperos que Rico e sua esposa estivessem, o medo de perder o controle da própria vida perpassava suas historias no que dizia respeito aos seus trabalhos.
Enrico, apesar de ter o seu trabalho burocratizado e rotinizado, consegue construir uma história baseada no uso correto do tempo com expectativas a longo prazo. Já para o trabalhador flexibilizado (como no caso de Rico), as relações de trabalho, os laços de afinidade com os outros não se fazem dessa maneira (longo prazo), em decorrência de uma dinâmica de incertezas e de mudanças constantes de emprego e de moradia que impossibilitam os indivíduos de conhecer os vizinhos, fazer amigos e manter laços com a própria família. Diante das mudanças no mundo do trabalho, ‘.. Como se pode buscar objetivos de longo prazo numa sociedade de curto prazo? Como se podem manter relações duráveis?’ (p.27).
Segundo o autor, esse é o grande desafio que as pessoas no contexto atual têm que enfrentar.
Nos dias atuais, a sociedade está em contínua revolta contra o tempo rotineiro, com o modelo capitalista usado no trabalho. Neste sentido, Sennett considera que a sociedade procura resolver o problema da rotina com a reestruturação do tempo, com instituições mais flexíveis, criando