Trabalho
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— Papai! Está acordado, papai? O homem ouve o pequeno ser que caminha em seu quarto. Cobre-se ainda mais, como se um frio sobrenatural tomasse conta do lugar. O menino caminha lentamente, aproximando-se pé ante pé do leito onde repousa seu pai. Dá uma série de pulinhos, como se brincasse de amarelinha. O menino abaixou-se e arremessou uma bolinha no assoalho. O brinquedo de vidro rolou pelo chão de tacos, produzindo um horripilante som fantasmagórico.
O homem estremeceu. Virou-se repentinamente, ainda deitado, deixando apenas os olhos espiarem o quarto pela fresta que arranjou no pesado cobertor. O som da bolinha de gude era assustador porque não deveria existir brinquedo algum ali. Não deveria existir menino tagarela nenhum em seu quarto. Não tinha filho que pudesse chamá-lo de papai. Tinha agora, ali, diante de seu olho amedrontado, uma espécie de espectro que andava, falava e saltitava amarelinha. Um fantasma que o chamava de papai.
Para meu querido tio Tição
Para meus amigos e todos os que estiveram no dia 24 de fevereiro no Buffet Madeira
Para você.
Só vejo mar, só vejo céu. A barca segue em paz.
Ao invés do útero...
O Gelo.
Ao invés da vida...
O frio.
Capítulo 1
As quatro e meia da manhã já havia pelo menos vinte pessoas alojadas em frente da delegacia do centro de Osasco. Estava preso ali Damião Arruda da Silva, seqüestrador e assassino de crianças. Aquelas pessoas agrupadas esperavam o raiar do sol e a chegada de mais manifestantes para começar o barulho diante do distrito policial. Queriam o linchamento de Damião. Queriam exibir a revolta contra a criatura de mente tão perversa. Para a sorte de Damião, não existia no Brasil inteiro a