Senhor

Jacques Lacan INTRODUO Dentre os estados mentais da alienao, a cincia psiquitrica desde h muito distinguiu a oposio entre dois grandes grupos mrbidos trata-se, qualquer que seja o nome pelo qual tenham sido designados, segundo as pocas, na terminologia, do grupo das demncias e do grupo das psicoses. pg. 01 ...na concepo da demncia, abandona-se cada vez mais o critrio do prognstico, para apoiar-se na medida de um dficit capacitrio. A correlao, no mnimo grosseira, desse dficit com uma leso orgnica, no mnimo provvel, basta para fundamentar o paralelismo psicoorgnico dos distrbios demncias. pg. 01 A psicose, tomada no sentido mais geral, assume a, por contraste, todo seu alcance que o de escapar a este paralelismo e revelar que, na ausncia de qualquer dficit detectvel pelas provas de capacidade (de memria, de motricidade, de percepo, de orientao e de discurso), e na ausncia de qualquer leso orgnica apenas provvel, existem distrbios mentais que relacionados, segundo as doutrinas, afetividade, ao juzo, conduta, so todos eles distrbios especficos da sntese psquica. pg. 01, 02 Essa sntese, ns a denominamos personalidade, e tentamos definir objetivamente os fenmenos que lhe so prprios, fundamentando-nos em seu sentido humano. pg. 02 Colocamos, portanto, o problema das relaes da psicoses com a personalidade. pg. 02 Para abord-lo, escolhemos a psicose paranoica. pg. 02 Numa primeira parte de nosso trabalho pretendemos, de incio, dar uma definio objetiva desses fenmenos da personalidade. Em seguida, retraamos a histria das doutrinas, especialmente das mais recentes, sobre a psicose paranoica. pg. 03 Numa segunda parte, tentamos mostrar que a aplicao de um mtodo teoricamente mais rigoroso conduz a uma descrio mais concreta, ao mesmo tempo que a uma concepo mais satisfatria dos fatos da psicose. pg. 03 I. POSIO TERICA E DOGMTICA DO PROBLEMA Cap. 1 - Formao histrica do grupo das psicoses paranoicas Trs escolas, em primeiro plano, trabalharam, no sem se influenciar,