Resumo, Urbanismo Barroco
Nos séculos XVII e XVIII consolidam-se as cidades capitais das soberanias absolutistas. Com a Revolução Industrial, a migração de camponeses e as agitações políticas, em fins do século XVIII e inícios do XIX algumas dessas cidades, principalmente Londres e Paris, alçam-se à condição de metrópoles. Este artigo procura mostrar como em Paris - a mais cosmopolita das cidades na época - inauguram-se novos comportamentos, modas, modos e até mesmo uma nova gestualidade. Aponta também as representações que na literatura e nas ciências humanas se elaboram sobre esse novo modo de vida no qual certos vanguardistas de inícios deste século vislumbram a germinação de uma nova sensibilidade.
Palavras-chave: metrópole, urbanismo, século XIX.
O urbanismo barroco configura lugares, assinala hierarquias e designa atributos. Para isto, figura articulações, distribui geometrias, condiciona percursos e enfatiza perspectivas. Cada conjunto urbano - pense-se, por exemplo, na Piazza di San Pietro em Roma, ou nas Place Dauphine e Place Royale em Paris, ou ainda nos palácios de Versailles e do Escorial - compõe uma totalidade acabada, na qual as relações estão meditadamente controladas, subordinando-se à unidade. A cidade é assim concebida como conjugação precisa de lugares singulares. As praças reais emblematizam - pela estátua, pela disposição urbana, pela composição - a providente soberania. No entanto, quando princípios destronam príncipes, diz Sylviane Agacinsky, referindo-se ao revolucionário Anacharsis Cloots:
É necessário que a razão governe: mas, onde está ela? Ela está no homem universal. Onde está esse homem? Ele está em Paris. A razão habita a cidade3.
A Paris da Grande Revolução não é apenas a capital da França, mas a capital do universo, dos Direitos do Homem, a Cosmópolis4. É-lhe atribuída a missão de fazer reinar a Razão, conduzindo-a a toda parte. Assim, ela deixa de ser um território encravado na França e permeado de particularismos, para centrar