Resenha do filme “Uma festa para Jorge”

Resenha do filme “Uma festa para Jorge” de Isabel Joffily e Rita Toledo
O documentário “Uma festa para Jorge” aborda a questão do culto sincrético de São Jorge exibindo parcialidades que convergem para um fim comum, que é o evento de celebração do santo. Desse material audiovisual é possível extrair elementos que se relacionam com teorias e conceitos desenvolvidos pela escola sociológica francesa.
A sinergia percebida nos preparativos para o evento explicita uma efervescência social e o seu poder de reunir os indivíduos que cultuam o mesmo santo e de instaurar o espírito de comunhão entre eles periodicamente, estabelecendo um vínculo duradouro, mesmo que, individualmente, não freqüentem a mesma igreja. Uma analogia possível é a que associa essa sinergia com a que sustenta a vida social, a idéia de coesão, fundamental em Durkheim, que coloca a sociedade como o princípio sagrado, a autoridade moral que inspira respeito nos homens que são seus servidores. Os homens abstêm-se de algumas liberdades e submetem-se a incômodos, privações e sacrifícios, aceitam as ordens de um imperativo moral que paira sobre suas consciências individuais porque sabem que são assistidos por essa autoridade moral, assim como os fiés acreditam ser protegidos por seu deus. Ou seja, uma há relação de interdependência entre o espírito humano e o espírito misterioso pois um não se sustenta sem o outro.
A ação coletiva (fato social), produto de uma força moral, só é possível pela socialização constante a que estão submetidos os homens. Essa socialização acontece através da força coercitiva do sistema de trocas, que faz da reciprocidade uma obrigação velada pois não é sentida como uma imposição física e sim como um dever moral de ser virtuoso. Logo, a força coercitiva de retribuição é uma força religiosa, porque envolve os significados de virtude, gratidão e caridade, que são valores religiosos.
Aliás, é fácil compreender porquê a força religiosa permeia a integração e dá um aspecto orgânico