Poesia contemporania brasileira
Fragmentos do corpo, do desejo, decompõem a cena primitiva, bíblica, da sexualidade e, simultaneamente, atualizam-na, em No Éden, de Cláudia Roquette-Pinto. Pela estratégia da fragmentação, deslizam para a cena a memória da infância, outras identidades, e o peso das coisas. Ao mesmo tempo, o leitor acompanha a desmontagem da única estrofe, dos versos e das palavras - com efeitos na acumulação de sentidos e na indeterminação da voz poética - através dos recursos da proliferação de vozes (na segunda e na terceira pessoas, e no impessoal), do espaço em branco e do uso de apenas duas pontuações, a vírgula e os parênteses (estes, utilizados intensamente). Tais recursos e mais a estratégia do minimalismo, que recorta e distribui os versos entre duas e oito sílabas, entrecortam o ritmo do poema:
peça a ela que se desnude começa pelos cílios segue-se ao arame dos utensílios diários
(insônia alinhavando-se de tiros, a infância seus disfarces) é preciso que se arranque toda a face deixar que os olhos descansem lado a lado com os sapatos na camurça oscilante de um quarto isso, se quer (sequer desconfia) tocar o que se fia (um par de presas, topázios) entre os vãos das costelas abra o fecho ela desfecha no escuro o quadrante onde