pesquisa social I
Reportagem: a rotina de mães e mulheres de presos
À custa de economias e dificuldades, esposas e mães de detentos se esmeram para enviar a eles, religiosamente, a cesta básica de produtos de higiene, roupas e comida essencial para sobreviver na cadeia
SABRINA DURAN COM FOTOS DE ANDREI KOGA
O discurso das quatro mulheres que serviram de fonte para esta reportagem é essencialmente o mesmo: elas trabalham a dupla jornada e gastam quase tudo o que têm para cuidar de maridos e filhos. Mas não se trata do exagero que permeia muitos discursos femininos. O quarteto lida com uma condição delicada e angustiante: seus maridos e filho são presidiários. Quando se trata de enviar o jumbo, cesta básica de alimentos, roupas e produtos de higiene, via correio ou mesmo visitar seus familiares, sobra muito trabalho e falta dinheiro. Enquanto cedem a entrevista para Época São Paulo, vigiam os filhos que correm em volta e olham a panela que deixaram no fogo, se sentem mais seguras para criticar o tratamento recebido por elas e pelos parentes. Marta, Carla, Jaqueline e Cleide* gastam até 500 reais para enviar pelo correio, pelo menos uma vez por mês, caixas forradas com produtos de higiene, doces, camisetas, cobertores, tênis e cigarro. Nem tudo pode ser enviado, seja pela quantidade, em geral 12 quilos por envio, ou pela periculosidade, ou seja, alimentos perecíveis ou que podem servir de esconderijo para armas (como ovo de páscoa ou biscoito recheado) e objetos que podem ser transformados em armas (como calçados com fivelas). Roupas “incrementadas” – o que pode significar apenas uma camiseta com duas cores – também estão proibidas para não violar o padrão de vestimenta dos detentos.
Cleide, 31 anos, diarista e mãe de quatro filhos, completa quase oito anos na rotina quinzenal de enviar, por correio e pessoalmente, o jumbo de um familiar. Primeiro foi para o irmão, que ficou preso por cinco anos; agora é o marido, preso há quase dois