Moral e ética, segundo La Talle

Muitos pensam que moral e ética são palavras empregadas como sinônimos. Porém, cada uma delas têm uma definição diferente, mas complementar à outra. Yves de La Talle, psicólogo especializado em desenvolvimento moral, nos mostra em seu livro “Moral e ética: dimensões intelectuais e afetivas” vários conceitos adotados para diferenciar o sentido de moral do de ética. A mais adotada é a de relacionar moral com fenômenos sociais (que incluem normas de conduta e objetos de estudos científicos) e ética como reflexão filosófica ou científica sobre esses fenômenos sociais. Nada tem a ver a palavra “moral” com “moralismo”. E os objetos de estudo citados, como diria La Talle, podem ser procurar traçar a história dos diversos sistemas morais (trabalho de história), podem também ser procurar compreender as condições sociais que os tornam possíveis ou até necessários (trabalho de sociologia), e assim por diante. La Taille acredita que essa diferença é muito interessante, pois além de nomear diferentemente o objeto e a reflexão que incide sobre ele (portanto, demarcar níveis de abstração), ela também sublinha o fato de se poder viver uma moral sem ao menos ter se dado ao trabalho da reflexão ética. E é aqui que encontramos uma possível oposição entre heteronomia e autonomia: para o heterônomo, assim como definido por Piaget (epistemólogo suíço, considerado um dos mais importantes pensadores do século XX), basta à obediência à autoridade, à tradição; para o autônomo, sempre segundo a definição piagetiana, é necessária a reflexão, a busca de princípios que expliquem e legitimem a moral. Outra diferenciação que é também importante considerar é a de que o conceito de moral se reserva para regras que valem para as relações privadas (como os comportamentos que devem ter um bom pai ou uma boa mãe, por exemplo), e o conceito de ética para aquelas relações que regem no espaço público (como os “códigos de ética” de várias profissões, ou da presença de expressões como “ética na política”).