Kundera

4307 palavras 18 páginas
Christian Salmon: Vou iniciar esta conversa com uma citação de seu texto sobre Hermann Broch. Você diz: "Todas as grandes obras (e justamente porque elas são grandes) têm alguma coisa inacabada. Broch nos inspira não somente por tudo o que levou a bom termo mas também por tudo o que visou sem atingir. O inacabado de sua obra pode nos fazer compreender a necessidade: 1. de uma nova arte do despojamento radical (que permita abranger a complexidade da existência no mundo moderno sem perder a clareza arquitetônica); 2. de uma nova arte do contraponto romanesco (suscetível de unir em uma só composição a filosofia, a narrativa e o sonho); 3. de uma arte do ensaio especificamente romanesco (isto é, que não pretenda trazer uma mensagem apodíctica, mas que permaneça hipotética, lúdica ou irônica)". Nesses três pontos eu discrimino seu programa artístico. Comecemos pelo primeiro. O despojamento radical.
M. K.: Apreender a complexidade da existência no mundo moderno exige, parece-me, a técnica da elipse, da condensação. De outra maneira, você cai numa armadilha sem fim.
O homem sem qualidades é um dos dois ou três romances que mais amo. Contudo, não me peça para admirar sua imensa extensão inacabada. Imagine um castelo tão imenso que não se pode abrangê-Io com o olhar. Imagine um quarteto que dura nove horas. Há limites antropológicos que não se devem ultrapassar, os limites da memória, por exemplo. No fim de sua leitura, você ainda deve ser capaz de se lembrar do começo. De outro modo, o romance se torna informe, sua "clareza arquitetônica" se obscurece.
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o

C. S.: livro do riso e do esquecimento é composto de sete partes. Se as tivesse tratado de uma maneira menos elíptica, você teria podido escrever sete longos romances diferentes.
M. K.: Mas se eu tivesse escrito sete romances independentes, não teria podido esperar apreender "a complexidade da existência no mundo moderno" em um só livro. A arte da elipse me parece, portanto, uma

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