Francis Bacon e Deus

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LXX

A melhor demonstração é de longe, a experiência, desde que se atenha rigorosamente ao experimento. Se procuramos aplicá-la a outros fatos tidos por semelhantes, a não ser que se proceda de forma correta e metódica, é falaciosa. Mas o modo de realizar experimentos hoje em uso é cego e estúpido. Começam os homens a vagar sem rumo fixo, deixando-se guiar pelas circunstâncias; veem-se rodeados de uma multidão de fatos, mas sem qualquer proveito; ora se entusiasmam, ora se distraem; presumem sempre haver algo mais a ser descoberto. Dessa forma, ocorrem que os homens realizam os experimentos levianamente, como em um jogo, variando pouco os experimentos já conhecidos e, se não alcançam resultados, aborrecem-se e põem de lado os seus desígnios. E mesmo os que se dedicam aos experimentos com mais seriedade, tenacidade e esforço acabam restringindo o seu trabalho a apenas um experimento particular. Assim fez Gilbert com o magneto, e os alquimistas com o ouro. Tal modo de proceder é tão inexperto quanto superficial, pois ninguém investiga com resultado a natureza de uma coisa apenas naquela própria coisa: é necessário ampliar a investigação até as coisas mais gerais.

E mesmo quando conseguem estabelecer formulações científicas ou teóricas, a partir dos seus experimentos, demonstram uma disposição intempestiva e prematura de se voltarem para a prática. Procedem dessa forma não apenas pela utilidade e pelos frutos que essa prática propicia, como também para obter certa garantia de que não serão infrutíferas as investigações subsequentes e, ainda, para que as suas ocupações sejam mais reputadas pelos demais. Por isso acaba acontecendo com eles o que aconteceu a Atalanta: desviam-se de seu caminho, para recolherem os frutos de ouro, interrompendo a corrida e deixando escapar a vitória. Para se topar com o verdadeiro caminho da experiência e a partir daí se conseguir a produção de novas obras, é necessário tomar como exemplos a sabedoria e a ordem divinas. Deus, com efeito,

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