Felizmente há luar
A obra é um drama narrativo, de caracter social, dentro dos princípios do teatro épico, que recria em dois atos a tentativa frustrada de revolta liberal de outubro de 1817, reprimida pelo poder absolutista do regime de Beresford e Miguel Forjaz, com o apoio da Igreja. Ao mesmo tempo, chama a atenção para as injustiças, a repressão e as perseguições políticas no tempo de Salazar, nos anos 60. A ação centra-se na figura do general Gomes Freire de Andrade e sua execução. O protagonista é constituído através da esperança do povo, das perseguições dos governadores e da revolta impotente da sua mulher e dos seus amigos. Amado por uns, é odiado pelos que temem perder o poder. Gomes Freire é acusado de chefe da revolta, de estrangeirado e grão-mestre da Maçonaria. Os governantes perseguem, prendem e mandam executar o general e os restantes conspiradores através da morte na fogueira. Para eles, aquela execução, à noite, constituía uma forma de avisar, de dissuadir outros revoltosos; para Matilde de Melo, mulher do general, e para mais pessoas era uma luz a seguir na luta pela liberdade. Dentro dos princípios épicos, é um drama narrativo que analisa criticamente a sociedade, apresentando a realidade com o objetivo de levar o espectador a tomar uma posição. Graças ao efeito de estranheza e à distanciação histórica, retrata a trágica apoteose do movimento liberal oitocentista e interpreta as condições da sociedade portuguesa do início do sec. XIX. Com a denúncia do ambiente político repressivo daquela época, tenta provocar a reflexão sobre a opressão e a censura que se repete no séc. XX.
O contexto histórico da produção da peça
Após as eleições presidenciais de 1958, em que se assistiu a uma monumental fraude eleitoral, que afastou o general Humberto Delgado da Presidência da República, Portugal vai viver uma época conturbada, marcada por divisões no interior do próprio regime.
A dualidade