Escritas

Em uma sala escura, uma mesa, uma cadeira, um cinzeiro e uma luminária.
Entra uma mulher, puxa a cadeira e a usa para subir em cima da mesa.

MULHER: Grande é a fome e a tormenta. Grande é esse vazio que existe dentro de nós.
(acende um cigarro e fica um tempo pensativa)
MULHER: Estranho... É escuro. É escuro e não há mais ninguém, Somente eu e muitos sentimentos. Desde que Adolfo morreu, venho pensando na vida e nas pessoas e por isso me isolei. Agora tento tomar outros caminhos, de redenção e sacrifício. Buscarei outros rumos, um rumo para minha existência.
(Entra um senhor e uma jovem)
JOVEM: Com licença, estou atrapalhando a senhora? Vim a mando do vizinho aqui da frente.
MULHER: Entre, não me convém em falar se sim, se não. Por que aquele velho pediu para uma jovem vir até aqui?
JOVEM: O senhor da frente, estranhou a fumaça e disse que nunca tinha visto fumaça vinda desta casa e mandou chamar.
VIZINHO: Isso mesmo, a senhora nunca havia fumado.
MULHER: Não estou, é esta jovem aqui. Quer nos acompanhar em um chá?
VIZINHO: Ah, não fica bem um homem sozinho com duas mulheres jovens e belas assim.
JOVEM: E não fica por quê?
VIZINHO: Porque sabe como são essas coisas... Os vizinhos podem falar...
(Todos dão risadas longas)
MULHER: Mas, eu gosto assim, sei que não é correto para uma mulher de família, mas o desejo me mata.
VIZINHO: Mata a todos nós.
MULHER: Esse desejo está me fazendo tão mal.
VIZINHO: Mas, qual é esse desejo?
MULHER: Eu tenho uma obsessão pela morte
(Assustado o vizinho quer ir embora, mas com muita curiosidade e desejos secretos pela mulher, decide ficar)
VIZINHO: Você já pensou em... Você sabe.
MULHER: Já... Eu gosto de histórias de morte, fico curiosa por esses programas de tragédias e acidentes... Me dá prazer, sabe?
VIZINHO: Credo... Eu sempre acendo uma vela para iluminar o caminho e espantar a mulher e a menina morta.
MULHER: Ô hômi danado. U qui ocê qué fala cuísso?
VIZINHO: Espantar alma penada, nega.
MULHER: Afe maria, afe jesuiz, né?