ensaio sobre júlio verne

I. Introdução

O objetivo deste trabalho é abordar a obra ficcional de Júlio Verne (1828-1905)1 em alguns pontos pouco ou mal estudados, como sua inequívoca filiação ao Romantismo em geral, e, principalmente, sua dívida para com os escritores de seu tempo, sobretudo o norte-americano Edgar Allan Poe (1809-1849), a quem Verne muito admirava. O trabalho coincide com o centenário da morte do autor de Da Terra à Lua2 e, assim, pretende ser também uma espécie de homenagem ao verdadeiro criador da ficção-científica, que previu algumas descobertas e desenvolvimentos tecnológicos. Conquanto, em alguns casos, Verne se limitasse a sugerir aperfeiçoamentos de máquinas e dispositivos já existentes, não resta dúvida de que suas histórias prenderam e prendem a leitura, pois ele soube dosar, com muito espírito, as aventuras e a informação tecnológica e/ou científica em seus textos de modo a nunca ser árido ou cansativo. O leitor de Júlio Verne, principalmente quando criança, descobre um mundo inexplorado ao ler seus livros e isso lhes confere um prazer todo especial, acima de tudo porque, mesmo defasada, sua informação tecnológica e científica, sem que o leitor se dê conta disso, lhe abre o espírito para a leitura e a pesquisa futuras e há de auxiliá-lo, mais adiante, a buscar um conhecimento mais sólido. Desse modo, ainda hoje o autor de A volta ao mundo em 80 dias, em que pese sua escassa importância literária – o que aliás é discutível –, continua sendo tão lido quanto um legítimo best-seller recém lançado, mesmo um século depois do seu falecimento.

II. Em busca da verossimilhança

O romance de aventuras do século XIX volta-se, em geral, para o passado histórico, acompanhando uma das vertentes do Romantismo, a que cultiva o medievalismo, o irracionalismo e o idealismo como reação contra o cientificismo e o excesso de tecnologia – e que significou uma crítica ao Classicismo setecentista – ao qual opõe, na literatura, o misterioso e o fantástico; é o caso de Hoffmann.