Albergue de Uberaba - experiência de um interno
O dia é 28 de dezembro de 2011. Quase véspera de ano novo. A noite vai caindo e vão aparecendo nossos irmãos. São aqueles homens e mulheres que a maioria tenta se esquivar na rua. Seja pelo olhar vidrado dos adictos ou pelo cheiro forte que a sujeira no corpo exala. Eu, Sovaco, tive a oportunidade de vivenciar tal experiência após algumas discussões com o gerenciador do Albergue e uma assistente social. Eles diziam que eu não era morador de rua em frente à SEDS (Secretaria de Desenvolvimento Social) e eu respondia que eu não tinha lugar para ficar na cidade, já que o contrato do pensionato que eu morava já expirou… Certo é que depois de algumas horas fui acolhido pela Ronda Social, um veículo cabeçudo (não sei a marca do carro) que me pegou no bairro Mercês e fez um mini-tour pela cidade buscando abrigar outros moradores de rua. Primeiramente tive que me cadastrar, com o documento de identidade que a assistente social transcreveu sobre uma prancheta e uma folha de papel.
O primeiro passo…
Já é noite quando entro no carro juntamente com a assistente social Cida e seu uniforme laranja e o motorista Eurípedes. Antes de chegar ao Albergue devemos passar na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do bairro São Benedito onde um adicto nos espera. Este se chama Sérgio. Usa boné, rugas levemente debruçadas ao lado da boca e carrega em mãos cerca de 10 papéis de receitas médicas. A primeira coisa que ele faz é apertar a minha mão e dizer que terá que tomar um remédio na veia que é “da pesada”. Ele é adicto em cocaína, crack e álcool. Não sorri muito e fica calado por boa parte do percurso.
A assistente social nos avisa que ainda passará na rua Conceição das Alagoas, onde a vizinhança reclama e reclama de um garoto que está urinando e defecando pela calçada. Poucos minutos e chegamos ao local. O garoto é gay, usa camisa rosa colada pelo corpo e shortinho. Tem cabelos pretos e pintados de