O Mundo de Apu - Escrita e Melancolia

3743 palavras 15 páginas
O Mundo de Apu – Escrita e Melancolia
Nota prévia: A leitura do seguinte texto pressupõe o visionamento do filme O Mundo de Apu (1958), de
Satyajit Ray, pelo que não se seguirá qualquer tipo de síntese da narrativa geral do filme em questão.

Exórdio
Na célebre Trilogia de Apu (O Lamento da Vereda, O Invencível, O Mundo de
Apu) – cujo arco narrativo global se delimita sensivelmente entre o nascimento de
Apurba (Apu) Roy e a sua entrada na vida adulta através da efectivação da paternalidade –, duas palavras de ordem predominam: Herança e Natureza. A premissa moral de cada filme coloca sistematicamente as peripécias da linha da vida particular
(Apu) em permanente relação dialéctica com o carácter ambivalente das leis físicas
(Mundo).
Do carácter ambivalente da Natureza provém a estrutura dramática de toda a
Trilogia, com maior evidência nalguns episódios específicos cuja ordenação interna se desenrola entre consequências ora positivas, ora negativas, face às quais o protagonista permanece sempre impotente. Em O Lamento da Vereda, se na contemplação diurna de
Durga (irmã de Apu), enquanto esta dança livremente à chuva, é proporcionada a Apu a observação do belo, nas cenas seguintes será a mesma chuva, agora nocturna, a determinar o adoecimento e consequente morte de Durga, como objecto de contemplação do horror. Em O Invencível, se é a trágica morte do Pai que obriga ao triste afastamento de Apu do dia-a-dia deslumbrante e pacífico em Benares, é também esse afastamento que permite a futura incursão de Apu no progressista mundo do conhecimento pela escola e pelos estudos, na cidade de Calcutá. Em O Mundo de Apu, se da união ‘acidental’ de Apu com Aparna brota um ‘milagre amoroso’, é também outro acidente de percurso – o da morte de Aparna, ao trazer Kajal ao mundo – que volta a ‘rasteirar’ Apu no seu destino tortuoso e imprevisível.
No final de cada filme, uma vez aceite a palavra de ordem da Natureza, a partida deliberada do(s)

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