O corpo fervia como fogo

O corpo fervia como fogo, a dor era gigantesca, gotas de água escorria pelo rosto, mas o sorriso, ah o sorriso, era inocente e a felicidade era de quem acabara de nascer.

E ela ficava parada na frente do portão, imaginando como seria do outro lado, como se seus pés conseguissem tocar os jardins sem sair do chão, sem dar ao menos um passo.
Ela olhava para as flores que tinham cores claras, e lembrava de sua infância, de quando ela e seus primos eram todos crianças e brincavam sem parar, brincavam como se fosse o último dia, como se não houvesse amanhã. Lembrava também de uma casa muito antiga, que fora denominada “casa da bruxa”, pois era toda destruída e esquecida, era cheia de teia de aranha e gelada como algo sem vida, e a porta era gigantesca com uma chave maior que sua mão.
Ela olhava ao seu redor e todas as lembranças voltavam na sua cabeça, olhava para as árvores e lembrava de quando era pequena e de quando o vento batia em seu rosto e descabelava seus cabelos, como folhas pelo ar. Olhava para o celeiro e lembrava de quando andou a cavalo e galopou pela primeira vez e de como se sentia leve como uma pena flutuando por todo lado.
Ela andava entre as flores que tinham um cheiro doce como o mel, e lembrava de quando brincava que era possível voar e ser quem quisesse, uma princesa, uma cantora, uma pop star, ou apenas uma simples garota da roça.
A memória trazia lembranças de um dia bom, na caneca de café, o gosto da história de sua infância e o sorriso daquela criança que um dia se foi.