M. Foucault - Vigiar e Punir (Resenha)
A nossa individualidade provém não apenas dos fenômenos internos; os acontecimentos externos influenciam sim, e muito, na construção de nossas identidades. Portanto, a sociedade que nos rodeia e o que ela pode nos oferecer ou nos impor afeta diretamente no indivíduo e na maneira que ele enxerga o mundo.
Olhando por uma perspectiva geral, a civilização chegou a esse nível de organização que vemos hoje por motivos de inúmeros métodos de controle, disciplina e sanção. Todos esses métodos, em suma, contribuíram para a formação da nossa cultura, do que somos hoje. É correto afirmar, então, que o poder das leis e suas punições foram essenciais para a formação de indivíduos que temem pelas decisões do poder judiciário e, portanto, se comportam conforme a lei. Forma-se assim uma cadeia de cidadãos que agem de forma semelhante, temem coisas semelhantes, pensam de forma semelhante; redigem discursos semelhantes, tem preconceitos semelhantes. O nome disso é cultura, sim, mas essa cultura adveio de uma série de medidas feitas pelo Estado afim de que a educação, o exército, a saúde, enfim, a sociedade fosse mais organizada e fornecesse uma economia de tempo e dinheiro para ela mesma. Explicarei como adiante.
- O corpo dos condenados
É verdade que em meados do século XVIII as punições eram em forma de suplício, ou seja, métodos de tortura que poderiam ou não levar à morte do condenado. Esse método acontecia de forma espetaculosa, em praça pública. Essa exposição tinha um motivo: que as pessoas soubessem o destino delas caso infringissem alguma lei da época. As medidas eram das mais sangrentas e tortuosas, dependendo do crime, e todo esse espetáculo era feito por representantes da lei. Já é de se esperar que com o tempo o suplício vá entrando em desuso. A cerimônia penal foi ficando menos compreendida. Os carrascos (que eram as pessoas encarregadas de realizar as torturas) ficaram vistos como os criminosos e os