A Utopia de Tomás More - O Seu Ideal Comunitário e a Realidade Inglesa Quinhentista
1 - Tomás More Ao tratar a Utopia torna-se imprescindível falar, para uma melhor compreensão da mesma, do seu autor, Tomás More1. Até porque com o passar do tempo e em diferentes áreas – culturais e religiosas – têm surgido várias imagens de More que, colocando mais ênfase em determinados aspectos da sua personalidade em detrimento de outros, resultam na transmissão de um retrato incompleto do mesmo.
1.1 - Tomás More, a Inglaterra em que Viveu
A Inglaterra do final do século XV atravessava um período de mudanças profundas a vários níveis, nomeadamente de natureza política, económica, social e cultural. De facto, More nasce em pleno Renascimento e quando se verificava no seu país o fim do feudalismo e a ascensão da classe média citadina a que a sua família, de resto, pertencia.
O povo inglês havia consolidado a consciência nacional na guerra contra a França e as lutas entre os ramos Lancaster e York vieram trazer uma nova dinastia, na figura de Henrique VII.
No tocante ao campo socio-económico vingava uma flagrante injustiça social fruto da exploração e comércio das lãs e dos altos níveis de desemprego causados por esta actividade e não só.2
No plano cultural, não esquecendo a influência dos Descobrimentos Marítimos3, destaca-se a introdução da imprensa e a intensificação de viagens de estudiosos ingleses à Europa meridional, local de nascimento do Renascimento. O Humanismo, sem perder ainda a visão Teocêntrica, ganhava cada vez mais terreno, ao mesmo tempo que a ascensão da Burguesia trazia consigo uma certa tendência para a secularização da sociedade.
1.2 - Tomás More, o Homem Tomás More nasceu em Inglaterra, em 1477 ou 14784, filho e neto de londrinos, sendo o seu pai advogado. Foi pajem ao serviço do arcebispo Morton (à altura chanceler de Inglaterra) cargo onde, “sem dúvida, muito aprendeu a respeito da vida politica, económica e diplomática e