A grande solução sociológica - por Álvaro de Campos

A grande solução sociológica - por Álvaro de Campos, “theorista social”

Mauro Luiz Rovai*

“A vida se cria no delírio e se desfaz no tédio”
(Émile Cioran, 1995: 22).
“Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu." (Álvaro de Campos).

Prólogo
O intuito deste trabalho é discutir duas percepções de “movimento” presentes em Álvaro de
Campos, a partir dos escritos presentes no capítulo 3 do livro Vida e obras do Engenheiro Álvaro de Campos, em que o heterônimo de Pessoa apresenta-se como “o poeta sociólogo”.
Intelectual afeito aos paradoxos e “theorista” social, Campos propõe um plano para a política do futuro - falhado de antemão, uma vez que os projetos não foram pensados para serem adotados na prática. Noutro apontamento do mesmo capítulo, elenca algumas características desse plano naquilo que chama de “Mensagem ao diabo”, e que consiste em criar abismos para os incautos, proporcionar os prazeres mais artificiais possíveis, fomentar todos os vícios e todas as seduções, de modo a lograr o que é entrevisto como a grande solução sociológica: “Fazer suicidas”. Prolongando a provocação e as críticas do poeta, o que se pretende aqui é estabelecer as possíveis conexões entre esses dois apontamentos e a busca pelo entretenimento, transformado em
“dever” nas sociedades contemporâneas, como aquilo a ser aniquilado com a produção de
“suicidas”. Para tanto, a análise não ficará restrita aos dois apontamentos, mas buscará subsídios em versos de outros poemas do heterônimo, como nos de “Tabacaria”, “Addiamento” e
“Apostilla”, bem como se fará uma pequena incursão pela concepção de “procrastinação”, do polonês Zygmunt Bauman, objetivando discutir questões fundamentais para se entender a provocativa “solução sociológica” da qual nos fala Campos.

1. O dever do sociólogo, por Álvaro de Campos
Fernando Pessoa dizia ser “um poeta estimulado pela filosofia e não um filósofo com faculdades poéticas” (Pessoa, 1986a: 36). Seguindo essa diretriz,