A Certa Pessoa Desvanecida

O Poema
A certa pessoa desvanecida
Um soneto começo em vosso gabo:
Contemos esta regra por primeira;
Já lá vão duas, e esta é a terceira,
Já este quartetinho está no cabo,

Na quinta torce agora a porca o rabo;
A sexta vá também d'esta maneira:
Na sétima entro já com gran canseira,
E saio dos quartetos muito brabo.

Agora nos tercetos que direi:
Direi que vós, Senhor, a mim me honrais
Gabando-vos a vós, e eu fico um rei.

N'esta vida um soneto já ditei;
Se d'esta agora escapo, nunca mais:
Louvado seja Deus, que o acabei Gregório de Matos Guerra

Análise do Técnica
O poema “A certa pessoa desvanecida”, de Gregório de Matos Guerra, é formada por dois quartetos e dois tercetos, o que a caracteriza como um soneto. E sendo um soneto, apresenta versos decassílabos. Ex.:
Con/te/mos/ es/ta /re/gra/ por/ pri/mei/ra;
A /sex/ta /vá /tam/bém /d'es/ta /ma/nei/ra:
A/go/ra/ nos /ter/ce/tos /que /di/rei:
Lou/va/do /se/ja /Deus, /que o /a/ca/bei

Em relação as rimas, pode-se concluir que o poema apresenta rimas interpoladas da seguinte maneira:
Um soneto começo em vosso gabo: A
Contemos esta regra por primeira; B
Já lá vão duas, e esta é a terceira, B
Já este quartetinho está no cabo, A

Na quinta torce agora a porca o rabo; A
A sexta vá também d'esta maneira: B
Na sétima entro já com gran canseira, B
E saio dos quartetos muito brabo. A

Agora nos tercetos que direi: C
Direi que vós, Senhor, a mim me honrais D
Gabando-vos a vós, e eu fico um rei. C

N'esta vida um soneto já ditei; C
Se d'esta agora escapo, nunca mais: D
Louvado seja Deus, que o acabei C

Características da obra de Gregório de Matos Guerra
Gregório foi o maior poeta do barroco brasileiro, tendo escrito poesias satíricas, líricas e religiosas.
O poema “A certa pessoa desvanecida” classifica-se como poesia satírica, e podemos notar que neste poeta a sátira manifesta-se através de uma ironia metalingüística. Essa metalinguagem pode ser observada pelo fato do eu-lírico ter