A Ameaça Otomana à Europa
A Ameaça Otomana à Europa (séculos XV - XVII)1
Ana Berenguer, Ana Carvalho & André Nunes2
Numa altura em que se debate a entrada controversa da Turquia para a União
Europeia, parece-nos relevante analisar um período da sua história com grande relevância, nomeadamente entre o século XV e século XVII. Nesta época a Europa tentava ainda definir-se territorialmente, assistindo a transformações consideráveis a nível político, social e religioso. Foi precisamente nessa altura que encontrou um poder rival à sua altura, que a fez tremer mas, no entanto, vencer. Essa força, esse furacão em constante desenvolvimento, foi o Império Otomano - um dos maiores e mais duradouros impérios da história do Mundo e, também, a primeira força muçulmana a fazer tremer os alicerces da, instável, Europa.
Todavia, apesar do facto de que mais de um terço do seu território estava dentro do Continente Europeu, o Império Otomano tem sido persistentemente considerado como um lugar à parte, dividido do Ocidente por diferenças de cultura e religião. A perceção que os ocidentais têm do seu militarismo, da sua barbárie e tirania levou a que diversos historiadores e académicos a medir o mundo otomano contra o padrão ocidental.
É objetivo deste trabalho expor algumas considerações e marcos importantes que poderão conferir uma visão diferente dos otomanos.
“Now shall thou feel the force of Turkish arms
Which lately made all Europe quake for fear."3
- Christopher Marlowe
Os primeiros povos turcos, que deram origem ao futuro Império Otomano, estavam sitiados na Anatólia. Eram conhecidos como beyliks4 e formavam vários principados que eram atacados por mongóis vindos de Leste e sofriam com a influência cristã bizantina.
Após afirmarem a sua soberania aos bizantinos, estes principados uniram-se, destacandose, dentre todos o de Sögüt, onde nasceu Osman I (1259-1326), primeiro governador otomano que pôs fim à época de instabilidade e iniciou a formação da Dinastia Osmanli.