Venha ver o por do sol

Ao ler o título do belíssimo conto de Lygia Fagundes Telles percebemos um convite, mas seria um interlúdio romântico?
O conto narra o encontro de Raquel, ex-namorada de Ricardo, que esta aceita encontrá-lo em um lugar ermo e afastado, contrariando seu compromisso com um homem mais rico do que Ricardo. Este desejava mostrar para Raquel seus verdadeiros sentimentos, convidando-a para ver o cemitério abandonado onde seus parentes estão enterrados. Por um caminho longo e bucólico o casal acaba relembrando momentos e selando destinos.
Percebemos que Raquel muda durante sua trajetória. No começo do conto ela se mostra confiante, zombeteira e sarcástica, mas durante o caminho dentro do cemitério vai alterando sua atitude e maneira de pensar tornando-se mais amedrontada, nostálgica e até curiosa. Vemos exemplos extraídos do conto:
[...] “Ela tragou lentamente. Soprou a fumaça na cara do companheiro. Sorriu.”[...]

[...] “Amuada, mas obediente, ela se deixa conduzir como uma criança. Ás vezes mostrava certa curiosidade por uma ou outra sepultura com os pálidos medalhões de retratos esmaltados.” [...]

Raquel é uma personagem secundária, ou seja, coadjuvante na narrativa de Ricardo. Mas, vemos se tratar de um personagem redondo, como demonstrado acima, ela muda durante o conto. Já Ricardo, podemos dizer ser um misto de protagonista e antagonista. Como isso se dá? O homem que Raquel pensava encontrar naquele dia seria nosso protagonista: um homem pobre, cordato e apaixonado que implorou dias seguidos por um encontro. Em contrapartida, o Ricardo que vai mostrando sua faceta em alguns momentos do conto nos faz perceber que o antagonista é que está ali com Raquel e isso se estabelece mais para o final do conto. Vejamos alguns exemplos do texto:
[...] “ Esguio e magro, metido num largo blusão azul-marinho, cabelos crescidos e desalinhados, tinham um jeito jovial de estudante.” [...]

[...] “Acariciou-lhe o braço com as pontas dos dedos. Ficou sério. E, aos poucos,