Uma criatura dócil Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski
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Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski
PRIMEIRA PARTE
Do autor
Peço desculpas aos meus leitores por lhes oferecer desta vez apenas uma novela, em vez do Diário em sua forma habitual1. Mas esta novela simplesmente me tomou a maior parte do mês. Em todo caso, peço condescendência aos leitores.
Agora sobre a história em si. Intitulei-a “fantástica”, ainda que eu mesmo a considere realista no mais alto grau. Mas aqui de fato ocorre o fantástico, e justamente na própria forma da história, o que eu considero necessário esclarecer de antemão.
Acontece que não se trata nem de um conto nem de memórias. Imaginem um marido, em cuja casa, sobre a mesa, jaz a própria mulher, suicida, que algumas horas antes atirou-se de uma janela. Ele está perturbado e ainda não conseguiu juntar os pensamentos. Anda pelos cômodos da casa e tenta entender o que aconteceu, “concentrar os pensamentos em um ponto”. De mais a mais, trata-se de um hipocondríaco inveterado, daqueles que falam sozinhos. Aí é que está, ele fala consigo mesmo, conta o ocorrido, tenta esclarecê-lo para si próprio. Apesar da aparente coerência do discurso, algumas vezes se contradiz, tanto na lógica como nos sentimentos. Ao mesmo tempo em que se justifica e culpa a mulher deixa-se levar por explicações esquisitas: há nisso tanto