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A roda funciona como grande elemento opressor, que age tanto sobre os que estão excluídos de seu movimento quanto sobre aqueles que giram dentro dela. A chegada da AIDS reforça o pacto repressivo, sendo mais um índice de brutalidade, não só no seu plano de destruição física, mas também na perversidade de seu simbolismo e de suas consequências nos âmbitos social e existencial. Nem dentro nem fora da roda, o que a Dama fantasia todas as noites é sua demolição, com a morte deste aparelho opressivo sufocante que delimita centro e margem – direita e esquerda – e não faz feliz a ninguém, seja em que posição se tenha escolhido ficar. Na roda, giram os que não sabem nada, não lêem nada, os que fingem que não viram, os que nasceram com a “máscara pregada”, os que estão terminantemente proibidos de sentir o perigoso gosto do corpo do outro.
O “boy” é o símbolo de uma geração caracterizada por já ter nascido proibida de tocar o corpo do outro. Essa proibição provém do medo de contrair a doença; é uma repressão construída no campo das ideias, por isso é tão sólida. AIDS era mais do que uma síndrome que afeta o sistema imunológico, ou seja, também era uma epidemia de pânico, preconceito, intolerância, afastamento e isolamento.
Olhando por este lado a AIDS faz parte do show da vida para todos. Em tudo que fazemos existe uma proteção contra ela. Existe um medo constante, que acaba em estigmatização, de contrai-la. A AIDS para muitos desentedores seria equiparada a morte.