Txt De Andrei Bessa

DO SABOR DE IR por Andrei Bessa*
* Mestre em Artes pela Universidade Federal do Ceará e formado em Artes Cênicas pelo Instituto Federal do Ceará. Diretor e ator.

Meu avô fugiu com o circo. Essa foi a primeira imagem que me tomou enquanto tentava anotar parte dos depoimentos de Maria Aparecida da Silva (Dona Cida), Josileudo de Souza (Palhaço Limãozinho) e Francisco de Assis (Palhaço Novidade). Cada um começou falando de como iniciaram no circo e, por motivos diferentes, todos revelaram o encantamento de quem primeiro olha o circo por fora e decide pegar a estrada. A fagulha ao se deparar com a magia e a certeza da decisão ainda estavam lá, em cada um, mesmo após muito tempo e todas as dificuldades.

Meu avô fugiu com o circo e voltou alguns dias depois. Nunca conheci meu avô, mas essa lenda me chega e me ronda sempre que me deparo com os encantos do universo circense. Dona Cida fugiu aos 12, querendo desbravar o mundo e deixar as rédeas da família. Limãozinho, quando ainda era Josileudo, foi deixar um remédio para o irmão que trabalhava no circo e com um telefonema informou a mãe que não o esperasse para jantar, o circo agora era seu lar. Já Seu Francisco aos 17, antes de ser Novidade e estava longe de ter o pronome de tratamento "Seu", começou a namorar uma menina do circo e se apaixonou pela lona. E meu avô, personagem que intrometo nessa história, se engraçou por uma artista e quis sentir o gosto da estrada, mas voltou alguns dias depois para ajudar sua esposa (minha avó) em sua quinta gravidez.

Lá, do ser nômade em uma arquitetura que se reinventa como lar

Não por menos, todos os convidados falaram de suas famílias construídas no circo. Dos filhos, aos netos, da dificuldade de ter um acompanhamento escolar - de algumas escolas que se negavam a receber seus filhos por um curto período de tempo. Fazer da lona um lar não é tarefa fácil.

Fantasia versus o dia-a-dia estava no depoimento de todos. Se foi a magia do circo que foram decisivos para a escolha de