Texto

E de repente ele me olhou nos olhos com aquele olhar de felino. Só pensei em me entregar, mas que fraca seria eu se me entregasse assim de bandeja já no primeiro encontro. Percebi que suas mãos estavam frias, seu cigarro parecia infinito de tantas vezes que ele o acendia. Era um atrás do outro, como os nossos passos, ele na frente tomando a postura de um homem forte e maduro e eu atrás fazendo o papel da boa moça, escondendo todo o meu feminismo, toda a minha autoajuda para poder chegar a esse encontro. Não se espante se a cor das maçãs da minha face for da mesma cor que suas meias. Na verdade estou espantada com toda essa nossa encenação em pleno século vinte e um. Estou me sentindo a Marilyn Monroe nos anos sessenta, obviamente que a sua beleza nunca terei, isto é fato, muito menos a sua sensualidade nem todo o seu charme. Fiz uma comparação distante apenas para lhe dizer que dela tenho apenas a antiguidade.
Ele queria que eu o lhe desse as mãos, mas eu as escondia pela saia. João é o tipo de cara que nunca entenderia esse suor pingando pelas minhas mãos. Nunca entenderia essa ansiedade que tem a mulher quando está de frente a frente com o seu homem. E qualquer desculpa esfarrapada que eu lhe dissesse, ele retrucaria sem dó para eu deixar de balela. O que literalmente fez Diabos aquela tal de Eva morder a bendita maçã, fazendo automaticamente essa divisão absurda de mundos, feminismo e machismo se tornarem dois lados - (negativos) de pilhas do controle remoto. Não acredito mais em estrelas cadentes, todas que consigo ver eu faço os mesmos pedidos e eles estão mais para utopias do que desejos. Já desisti daquelas novenas malucas que minha avó insiste em me dizer que um dia irá funcionar, acho mesmo que elas só funcionam em agosto, a gosto de Deus. O jeito é pedir a Ele para que o João pense como eu só um pouquinho, mas um pouquinho mesmo pode ser até na velocidade da luz, mas que pense. Que veja como funciona o mundo dessas iludidas que nem eu. É por que ser