Ricardo Reis

527 palavras 3 páginas
Ricardo Reis Uns, com os olhos postos no passado, Uns, com os olhos postos no passado, Vem o que no vem outros, fitos Os mesmos olhos no futuro, vem O que no pode ver-se. Porque to longe ir pr o que est perto A segurana nossa Este o dia, Esta a hora, este o momento, isto quem somos, e tudo. Perene flui a interminvel hora Que nos confessa nulos. No mesmo hausto Em que vivemos, morreremos. Colhe O dia, porque s ele. lvaro de Campos Ode Martima Sozinho, no cais deserto, a esta manh de Vero,Olho pro lado da barra, olho pro Indefinido,Olho e contenta-me ver,Pequeno, negro e claro, um paquete entrando.Vem muito longe, ntido, clssico sua maneira.Deixa no ar distante atrs de si a orla v do seu fumo.Vem entrando, e a manh entra com ele, e no rio,Aqui, acol, acorda a vida martima,Erguem-se velas, avanam rebocadores,Surgem barcos pequenos de trs dos navios que esto no porto.H uma vaga brisa.Mas a minhalma est com o que vejo menos,Com o paquete que entra,Porque ele est com a Distncia, com a Manh,Com o sentido martimo desta Hora,Com a doura dolorosa que sobe em mim como uma nusea,Como um comear a enjoar, mas no esprito.Olho de longe o paquete, com uma grande independncia de alma,E dentro de mim um volante comea a girar, lentamente,Os paquetes que entram de manh na barraTrazem aos meus olhos consigoO mistrio alegre e triste de quem chega e parte.Trazem memrias de cais afastados e doutros momentosDoutro modo da mesma humanidade noutros pontos.Todo o atracar, todo o largar de navio, sinto-o em mim como o meu sangue -Inconscientemente simblico, terrivelmenteAmeaador de significaes metafsicasQue perturbam em mim quem eu fui...Ah, todo o cais uma saudade de pedraE quando o navio larga do caisE se repara de repente que se abriu um espaoEntre o cais e o navio,Vem-me, no sei porqu, uma angstia recente,Uma nvoa de sentimentos de tristezaQue brilha ao sol das minhas angstias relvadasComo a primeira janela onde a madrugada bate,E me envolve como uma recordao duma outra pessoaQue

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