Rasputin: cruzando biografias

RASPUTIN: CRUZANDO BIOGRAFIAS1
Fábio de Borba Sales2

Introdução
Em dezembro de 1916, enquanto as mal armadas tropas do Império russo procuravam deter o avanço alemão sobre seu território durante a 1ª Guerra Mundial, e a poucos meses da deflagração de uma revolução socialista que traria à tona, ainda que de modo inesperado, as predições mais audaciosas de Marx, um acontecimento na então capital Petrogrado esboçou com sangue o destino final que estava reservado ao próprio czarismo. Grigori Yefimovich Rasputin, conselheiro pessoal do casal real Romanov, é assassinado no palacete do aristocrata Félix Yussupov e seu corpo jogado nas águas congeladas do rio Neva. Dentre os que estavam presentes ao assassinato encontravam-se o próprio Yussupov (assassino auto-confesso); o Grão-Duque Dmitri Pavlovich, primo do czar Nicolau II; Vladimir Purishkevich, monarquista e reconhecido membro da
Duma3; Sergei Sukhotin, tenente militar e amigo de Yussupov; e, segundo alguns autores, Oswald Rayner, um membro da inteligência britânica.
Não fosse a singular trajetória de Rasputin, um camponês que, saído de uma pequena vila siberiana, virara um monge dotado de uma invulgar capacidade de evidenciar e colocar à prova sua personalidade mística. Uma figura que soube aproveitar o momento fortuito para aproximar-se da imperatriz Alexandra Feodorovna e do czar Nicolau II e, sobretudo, angariar a confiança extrema do casal real por meio da inacreditável cura que parecia se operar em seu filho e príncipe-herdeiro, Alexei
Romanov. Considerando que a influência que a partir daí exerceria, principalmente sobre a crédula czarina, foi amplamente utilizada tanto por críticos, quanto pelos apoiadores do regime czarista, em seus últimos e convulsivos anos, não é difícil de imaginar que Rasputin estava posicionado no limiar perigoso entre duas forças divergentes. Em tempos de guerra, porém, o suposto controle exercido por Rasputin sobre os
Romanov não chamava atenção somente no nível doméstico.