Poder aquisitivo

No texto “Doutor advogado e doutor médico: até quando?”, publicado em coluna na revista Época, que tem a língua como instrumento dinâmico e mutável com o decorrer da história, atribui-se àspalavras, mesmo que de forma despercebida, vários e variáveis sentidos. Nele a jornalista e colunista Eliane Brum analisa e critica o uso da palavra “doutor”, atribuindo a ela expressões de relaçõesdiversas no cotidiano, tendo sido usada como demarcação de poder, submissão e abuso.
Em sua opinião, no Brasil, esse tipo de tratamento, em um de seus usos, se tornou comum pelo fato de ser marcado dahierarquia arcaica usada para mostrar a superioridade do rico para com o pobre, e do branco para com o negro. Estabelecendo-se então, como um fosso que expressa às diferenças vividas na realidadecotidiana do país. Levando as pessoas, principalmente aquelas que se intitulam inferiores a outras, permitirem e acharem normal essa forma de uso da palavra. Forma a qual vem perdendo força e se tornandomotivo para gozação, por ser tida como forma de tratamento ridícula.
Enquanto isso, continuamos vendo claramente o uso impróprio e vigoroso do “doutor” para com os advogados e médicos. Tendo em defesade seu uso um decreto de Dom Pedro I ocorrido em 1827 que assegurava a bacharéis de Direito esse título, que mais tarde fora estendido aos médicos, mesmo não sendo esse o motivo de sua perpetuação.Motivo o qual se encontra na pouca mudança profunda na sociedade, que ainda se encontra repleta de desigualdades que moldam nosso cotidiano. Fazendo com que os mais pobres se sintam dependentes dosagentes que atuam de forma superior nessas instituições, que são tidas como de grande importância por exercerem autonomia sobre corpos.
Portanto esse emprego de “doutor” persiste devido ao contextoem que vivemos, no qual patologias são tidas como definições de pessoas. A juventude juntamente a potência, se tornaram valores e a deficiência de serviços que nos deveriam ser de direito