Pierre Menard, o autor de Quixote

2912 palavras 12 páginas
PIERRE MENARD, AUTOR DO QUIXOTE

A Silvina Ocampo A obra visível que deixou este romancista é de fácil e breve enumeração. São, portanto, imperdoáveis as omissões e acréscimos perpetrados por Madame Henri Bachelier num catálogo falacioso que certo diário cuja tendência protestante não é segredo teve a desconsideração de infligir aos seus deploráveis leitores — embora estes sejam poucos e calvinistas, quando não mações e circuncisados. Os amigos autênticos de Menard viram com alarme esse catálogo e também com certa tristeza. Dir-se-ia que ainda ontem nos reunimos diante do mármore final e no meio dos ciprestes infaustos e já o Erro tenta deslustrar a sua Memória... Decididamente, é inevitável uma breve rectificação.
Consta-me que é facílimo recusar a minha pobre autoridade. Espero, no entanto, que não me proíbam de mencionar dois elevados testemunhos. A baronesa de Bacourt (em cujos vendredis inesquecíveis tive a honra de conhecer o chorado poeta) julgou por bem aprovar as linhas que se seguem. A condessa de Bagnoregio, um dos espíritos mais finos do principado do Mónaco (e agora de Pittsburgh, Pensilvânia, após o seu recente casamento com o filantropo internacional Simon Kautzsch, tão caluniado, ai!, pelas vítimas das suas desinteressadas manobras) sacrificou «à veracidade e à morte» (tais são as suas palavras) a senhoril reserva que a distingue e numa carta aberta publicada na revista Luxe concede-me igualmente o seu beneplácito. Estas nobres acções, creio eu, não são insuficientes.
Disse que a obra visível de Menard é facilmente enumerável. Examinado com o maior cuidado o seu arquivo particular, verifiquei que consta das peças seguintes:
a) Um soneto simbolista que apareceu duas vezes (com variantes) na revista La conque (números de Março e Outubro de 1899).
b) Uma monografia sobre a possibilidade de construir um vocabulário poético de conceitos que não sejam sinónimos ou perífrases de que se forma a linguagem comum, «mas objectos ideais criados

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