Os maias
E assim é [ou voltou a ser] hoje em dia. Andou uns tempos esquecido, é verdade, mas bastou que a televisão fosse buscar inspiração [palavra perigosa] no velho romance, para que as novas reedições sumissem, recém-chegadas às livrarias, pouco antes do Natal, e fossem totalmente consumidas pouco antes do novo ano.
Eça de Queiroz foi impreciso e modesto ao dar a Os Maias o subtítulo 'episódios da vida romântica'. Na verdade, o seu mais famoso romance é uma tragédia, tal como a entendia Sófocles quando, já na maturidade, compôs o seu Édipo. Uma tragédia burguesa, mas quand même uma tragédia, pois que lá está a grave transgressão moral, cometida em completa inconsciência por seus dois personagens centrais — Carlos Eduardo e Maria Eduarda.
Da Maia, ambos; irmãos, apaixonados e incestuosos ambos, e belos e trágicos.
Invejo quem agora, instigado pela minissérie, vai ler esse livro pela primeira vez. Terá prazer único e irreproduzível. As releituras que hão de vir, mais tarde, servirão de consolo, mas não de substituto. Esse prazer estará certamente na elegância barroca da forma e no desenvolvimento astucioso do entrecho. Mas estará também, ou principalmente, nos admiráveis retratos que Eça faz de seus tipos principais, com a elegância e a minúcia de um genial pintor romântico, mas com 'o seu olho à Balzac'.
A começar não por um tipo, mas por uma casa, mais exatamente a 'casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no outono de 1875', que surge, penumbrosa e prenunciadora, logo na primeira frase do livro, e que