Oro
O caso da Igreja Universal do
Reino de Deus
Ari Pedro Oro1
Este texto versa sobre a inserção da Igreja Universal do Reino de Deus
(IURD) na política nacional. Meu argumento é que o seu sucesso eleitoral, que aumenta a cada nova eleição, deve-se fundamentalmente à sua forma de organização eclesial carismática e centralizadora e à sua capacidade de trazer para o campo político importantes elementos práticos e simbólicos do campo religioso. Em decorrência disso, como veremos, o possível carisma pessoal dos candidatos a cargos políticos egressos da Igreja fica subordinado ao carisma institucional da própria Igreja.
1
Doutor em Antropologia, professor no Departamento de Antropologia da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. Endereço: arioro@uol.com.br
Civitas, Porto Alegre, v. 3, nº 1, jun. 2003
98
Civitas – Revista de Ciências Sociais v. 3, nº 1, jun. 2003
Carisma pessoal e carisma institucional
Para Max Weber, carisma é uma qualidade extraordinária, de caráter extra-quotidiano, reconhecida como tal por um grupo social. O carisma caracteriza alguns indivíduos (profetas, feiticeiros, chefes militares, “demagogos”) detentores de um carisma pessoal, mas também instituições do tipo igreja portadoras de um carisma de função, ou de instituição, derivado da apropriação de um carisma pessoal fundador (profético), rotinizado (Weber,
1971, p. 249)2. A relação entre carisma pessoal e graça institucional, diz
Bourdieu, é de luta pelo monopólio do exercício legítimo do poder religioso. Ou seja, a igreja, enquanto empresa burocrática de salvação3, “é incondicionalmente hostil ao carisma ‘pessoal’, isto é, profético, místico ou extático, que pretende indicar um caminho original em direção a Deus”
(Bourdieu, 1987, p. 95). Ao mesmo tempo, a igreja preconiza que seus funcionários (padres ou pastores) “deve(m) se subordinar à graça institucional sob pena de condenação...” (Séguy, 1982, p. 33); eles devem reproduzir as obrigações