Nobres e Anjos – Um estudo sobre tóxicos e hierarquia - Primeiro capítulo
Gilberto Velho
Apresentação
O livro estudado é resultado de uma série de trabalhos de pesquisa da época da graduação do autor e que mais tarde, tornou-se sua tese de doutorado, defendido em 1975 na USP. Gilberto Velho se preocupava em conhecer mais profundamente as camadas médias da sociedade brasileira.
O autor pretende complexificar a visão de algumas parcelas significativas da população brasileira. A originalidade desse trabalho se dá no método antropológico de pesquisa, pois antes, pelo menos no Brasil, não havia nenhum trabalho estudado sob esse enfoque do desvendamento de problemas de grupos sociais até então não estudados. O autor se utiliza da técnica de pesquisa de observador participante e da análise participante.
O livro foi publicado muitos anos após ser escrito, pois na época que defendeu sua tese o medo da repressão do regime militar e a preocupação de manter a privacidade do grupo estudado o impediu de publicá-lo.
Introdução
O objetivo desse estudo é ampliar o conhecimento que temos das camadas médias brasileiras, focado em grupos que habitavam a zona sul do Rio de Janeiro. Para selecionar esses grupos o uso regular de tóxicos foi utilizado como característica fundamental. O autor parte do ponto de vista dos membros do grupo que classificavam as pessoas de acordo com a relação delas com os tóxicos.
Assim como vemos no debate atual sobre drogas, Gilberto Velho cita que os órgãos de comunicação de massa e as entidades oficiais marcam os indivíduos ou grupos que utilizam tóxicos pejorativamente. Ou seja, o uso de tóxicos “marca fronteiras” para quem usa e para quem os acusa de forma muito clara.
Dificuldades apresentadas na pesquisa:
- estudar um universo que é mal visto por grande parte da sociedade e além disso é ilegal e criminoso
- desconfiança das pessoas que faziam parte dos grupos estudados
- desconforto em relação a sensação de invadir o universo alheio (sentimento