Nao tenho

John Locke (1632-1704)

Médico de formação (Oxford), trabalhando como professor, Locke (que finalmente nunca exercerá plenamente a medicina) aproximou-se do admirável Thomas Sydenham (1624-1689) – infectologista, epidemologista, fundador da nosologia sistemática, médico de profissão e grande estudioso – e tornou-se adepto entusiasta do “método histórico”, tal como praticado com sucesso pelo autor doMethodus Curandis Febres. Sydenham, ao considerar que a doença existe num processo ordenado na natureza, supondo uma racionalidade imanente ao encadeamento dos fenômenos (no caso da doença, a série que conduz a sua cura natural), postula um fenomenismo rigoroso, onde se trata de seguir esse processo natural, armando-se do método apropriado para apreensão da sua racionalidade, isto é, sendo o mais fiel possível aos dados da experiência, descartando as hipótesesa priori e as ficções da imaginação. Em colaboração com Sydenham, Locke escreve um tratado sobre a varíola e publica sozinho nessa época: De Arte medica (1669) e Anatomia.
Tendo ingressado na Royal Society en 1668, aproximou-se também de Boyle, cuja mecânica dos gases permitia avançar, contra a pouco convincente noção cartesiana de “substância extensa”, a existência do vácuo e a natureza corpuscular da matéria. De fato, o riquíssimo e excêntrico Boyle, com suas inúmeras e notáveis pesquisas em química, consegue demonstrar a decomposição elementar (atômica)[1] das substâncias, contra a velha ideia da composição dos diferentes corpos pela combinação dos elementos (ar, fogo, água, terra, etc.). Através de Boyle, confirma-se a influência de Gassendi no pensamento de Locke, que abraçará como hipóteses prováveis tanto a física corpuscular de tipo mecanicista quanto a análise das faculdades do conhecimento proposta por Gassendi. E estas hipóteses, com método histórico herdado de Sydenham, estão na base das suas pesquisas psicológicas e epistemológicas. Entretanto, tornando-se uma espécie de secretário do conde de