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Michael Kober*

Constituindo a verdade como um valor

A Semântica filosófica é a parte da filosofia da linguagem que compreende o papel das expressões lingüísticas (por exemplo, nomes, conceitos, constantes lógicas, etc.) bem como considera as contribuições destas para determinar o valor de verdade de cada sentença na qual uma expressão ocorre (e a sentença é a portadora de um valor de verdade). Ainda que o próprio Frege não tenha colocado isso desta forma (ele não conheceu o termo “semântica”, o qual foi introduzido por Tarski), ele pode ser considerado verdadeiramente o
“inventor” da semântica filosófica. Verdade e falsidade são introduzidas por
Frege como dois valores de verdade na lógica clássica bivalente e estes dois valores de verdade são entendidos por Frege como sendo dois objetos existentes. Não obstante, ninguém que já não tenha sofrido uma pesada lavagem cerebral em semântica filosófica irá surpreender-se ao ouvir que verdade é um valor objetivamente existente. Assim, um dos leitmotifs da presente contribuição será perguntar muitas vezes o que supostamente isto significa, ontológica e epistemicamente.
1. A crítica da teoria da verdade como correspondência

Prima facie, isto é, para praticamente todo novato filosófico, a concepção mais plausível de verdade é de fato a denominada teoria da verdade como correspondência, a qual diz que uma proposição é verdadeira se esta concordar com ou corresponder a um fato. Porém, quase todos os componentes da teoria da correspondência têm sido questionados. As quatro principais objeções são as que se seguem.

* University of Ulm, Alemanha o que nos faz pensar n020, dezembro de 2006

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Primeiro, a noção de “fato” é enigmática, pois nós não sabemos o que um fato é, ou como um fato pode ser identificado, sem entender o que a proposição que supõe-se corresponder a este significa. Assim, a relação de correspondência entre uma proposição e um fato ou é tautológica (uma vez que um fato p é aquilo a que

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