Maus tratos infantis

Ser Criança Não deveria Doer...
Contribuição para a Construção de uma Tipologia de Maus Tratos às Crianças
Zélia Barroso1

1. Introdução
A presente comunicação baseia-se nos resultados de uma investigação realizada no âmbito de uma Dissertação de Licenciatura em Sociologia, sobre crianças vítimas de maus tratos perpetrados pela família que, foram diagnosticados nos serviços de Pediatria e de Pedopsiquiatria de um hospital público de Lisboa. Dar um contributo para a construção de uma tipologia de maus tratos às crianças, constituiu o objectivo principal da investigação que, privilegiou a recolha sistemática de informação diversificada de trezentos processos clínicos de menores maltratados no intuito de identificar situações tipo de mau trato infantil. Na génese da definição deste propósito, esteve a tentativa de procurar mostrar que a natureza do mau trato infligido à criança tende a variar consoante a posição que a família de pertença ocupa no espaço social. Os maus tratos afectam, na generalidade, crianças provenientes de todos os meios sociais; afectam-nas porém diferentemente.
Infelizmente, a definição que temos de infância feliz não é uma categoria universal, mas uma construção histórica e social, como tem sido posto em evidência a partir dos estudos de Philippe Ariès (1988, 1990). Não há pois, uma, mas várias infâncias estreitamente relacionados com a posição dos actores no sistema social, com os recursos e contextos em que ocorre o seu desenvolvimento. Do mesmo modo, as modalidades distintas de maltratar a criança não se distribuem socialmente ao acaso; o contexto sócio-familiar que as envolve parece contribuir decisivamente para definir a natureza ou as dimensões predominantes do mau trato de que são vítimas.
O que importa destacar não é tanto as características da personalidade individual da vítima e do agressor, mas sim o espaço social em que o mau trato ocorre. Isto implica que as noções de posição social e de mau trato sejam definidas de forma