Lixo extraordinário
Desse modo, o documentário aborda não só o trabalho de Vik, mas também o poder transformador da arte, capaz de alterar não só a realidade das pessoas, mas ainda a percepção de mundo que elas têm. Logo no início do filme, aqueles que são considerados o nível mais baixo da pirâmide social surpreendem ao mostrar a felicidade e o orgulham que sentem por trabalhar de forma digna, o que já serve como um choque de realidade impactante – e capaz de alterar as percepções do espectador.
Quanto mais a realidade dos catadores do Jardim Gramacho é apresentada, mais interessante se torna o documentário que, engajado inicialmente em um retrato social crítico, com o passar do tempo mantém esse tom ao mostrar o poder transformador da arte na vida daquelas pessoas. E se até meados do longa o público era convidado a refletir sobre a questão da marginalização daquelas pessoas, absolutamente excluídas da sociedade, depois de sua metade passa a, inevitavelmente, emocionar-se com a transformação que a cultura traz para aquela comunidade.
Os catadores não são apenas objetos para belas fotografias artísticas de Vik em meio à sujeira, mas passam também a serem autores das obras ao darem os contornos necessários – sempre com material retirado do lixo – as suas próprias imagens ampliadas no chão e, posteriormente, fotografadas de cima por Vik. Assim, a emoção daquelas pessoas humildes ao verem o resultado de seus esforços e perceberem suas capacidades intelectuais para produzir, e até mesmo interpretar a arte, é