Literatura Brasileira

16458 palavras 66 páginas
O ERMITÃO
DA
GLÓRIA
*
L E N D A

I
AO CORSO Caía a tarde.
A borrasca, tangida pelo nordeste, desdobrava sobre o oceano o manto bronzeado.
Com a sombra, que projetavam os negros castelos de nuvens, carregava-se o torvo aspecto da costa.
As ilhas que bordam esse vasto seio de mar, entre a Ponta dos Búzios e Cabo Frio, confundiam-se com a terra firme, e pareciam apenas saliências dos rochedos.
Nas águas da Ilha dos Papagaios, balouçava-se um barco de borda rasa e um só mastro, tão cosido à terra, que o olhar do mais prático marinheiro não o distinguiria a meia milha de distância entre as fraguras do penedo e o farelhão dos abrolhos.
Pelas amuradas e convés do barco, viam-se recostados ou estendidos de bruços, cerca de dez marujos, que passavam o tempo a galhofar, molhando a palavra em um garrafão de boa cachaça de São Gonçalo, cada um quando chegava a sua vez.
Na tilha, sobre alva esteira de coco, estava sentada uma linda morena, de olhos e cabelos negros, com uma boca cheia de sorrisos e feitiços.
Tinha ao colo a bela cabeça de um rapaz, deitado sobre a esteira, numa posição indolente, e com os olhos cerrados, como adormecido.
De momento a momento, a rapariga debruçava-se para pousar um beijo em cheio nos lábios da moço, que entreabria as pálpebras e recebia a carícia com um modo, que revelava quanto já se tinha saciado na ternura da meiga cachopa.
— Acorde, preguiçoso! dizia esta, galanteando.
— Teus beijos embriagam, amor! Não o sabias? respondeu o moço fechando os olhos.
Nesse instante, um homem, que descera a abrupta encosta do rochedo com extrema agilidade, tirou-se à ponta da verga, e travando de uma driça, deixou-se escorregar até o convés.
O desconhecido, que assim chegava de modo tão singular, era já bem entrado em anos, pois tinha a cabeça branca e o rosto cosido de rugas; mas conservara a elasticidade e nervos da idade viril.
Com a arfagem que o movimento do velho imprimiu ao navio, sobressaltou-se toda a maruja; e o moço, que

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