Justificação da Fé
A Doutrina da Justificação pela Fé – Um Exercício em
Diálogo Teológico Bilateral – Parte 1
Ronaldo Cavalcante*
Resumo
Reconstruir, hoje, a doutrina da Justificação pela Fé pressupõe uma aproximação aos loci
– lugares fundamentais, com base nos quais se articularam as idéias mestras que deram origem à doutrina da Justificação pela Fé propriamente dita. Isso significa que, sobre a
Escritura, como locus original, incidiram certas forças confessionais específicas, que se tornaram verdadeiras chaves hermenêuticas tanto para luteranos quanto para calvinistas, bem como para católicos.
Palavras-Chave
Justificação pela fé, imputação, loci, locus, forense, fides infusa, iustitia aliena, fiducial, diálogo. Introdução
A presente reflexão acerca da doutrina bíblica da Justificação pela Fé1 não possui, a priori, a intenção de uma pastoral doutrinária, senão a de estabelecer, em perspectiva teológica, os pontos fundamentais em torno dos quais esta se erigiu como centro do discurso evangélico. Busca-se, pois, recuperar os loci essenciais da doutrina protestante clássica, magistral, e, com isso, redescobrir seu locus central para a identidade eclesial reformada. Sendo assim, o “esclarecimento” teológico-doutrinário acaba por ter também uma função poimênica: sedimenta a fé pessoal e conscientiza ontologicamente o organismo eclesialcomunitário. Na verdade, é impossível desvincular ortodoxia de ortopraxia. A ética cristã é o resultado e o produto de um corpus teológico. A questão central é saber com que teologia o povo reformado está sendo alimentado. Não seria o atual colapso ético evangélico uma natural conseqüência da renúncia ao kerigma e do esvaziamento da didaskalia? O apelo é, portanto, retornar para poder reformar – semper reformanda! Dessa forma, é nosso intuito debater teologicamente a Justificação pela Fé e suas implicações eclesiais, entendendo que a abertura dialogal não só enriquece a convivência, mas também