Heródoto e tucídides
Heródoto e Tucídides situam-se, cronologicamente, numa relação não muito diversa daquela existente entre Sófocles e Eurípides. Heródoto é o mais velho; segundo um cálculo antigo, mesmo que contestável, mas que não foi mais substituído por outro que oferecesse melhor certeza, ele tinha, por inícios da Guerra do Peloponeso, cinquenta anos, e Tucídides, quarenta.
Mas a posição social e os acontecimentos referentes às vidas dos dois fundadores de toda ciência e arte histórica foram diversos e mesmo de fato opostos.
Heródoto, nascido no litoral asiático, numa cidade que mantinha estreitas relações comerciais e políticas com as nações orientais, tanto que ele dedicou uma parte de sua vida à investigação delas, foi depois atraído para a grande metrópole comercial de Samos, e finalmente para Atenas, que então alcançara o ápice de seu poderio marítimo. Ele era um estrangeiro em Atenas, mas afeiçoou-se aos atenienses de todo coração e muito os admirava.
Já Tucídides, ateniense de nascimento, de origem nobre, e exercendo de um dos cargos mais importantes então existentes, o comando independente de uma esquadra da frota, teve o infortúnio de se ver antecedido, talvez por um dia, pelos peloponésios que ocuparam Anfípolis antes que ele a alcançasse com as suas naus. Assim perdeu as boas graças do povo ateniense, então dominado por um líder democrático que não tinha consideração por ninguém. Foi punido com o exílio que transcorreu em sua propriedade de herança, parcialmente sob a proteção dos lacedemônios. Esta sorte adversa lhe foi vantajosa para a compilação da história da guerra que, desde seu início, decidira escrever. O seu material não estava mais circunscrito somente aos relatos e às vozes que se difundiam em sua cidade natal, e assim encontrou o modo de poder alcançar uma representação imparcial.
Enquanto o estrangeiro se sentia levado a privilegiar Atenas, o ateniense tinha bons motivos para observar os atos de seus concidadãos sem