Gentrificação
A gentrificação é sempre, por definição, um processo de “filtragem social” da cidade. Vem despoletar um processo de recomposição social importante em bairros antigos das cidades, indiciando um processo que opera no mercado de habitação, de forma mais vincada e concreta nas habitações em estado de degradação dos bairros tradicionalmente populares. Correspondendo à recomposição (e substituição) social desses espaços e à sua transformação em bairros de classes média, média-alta, não se pode deixar de referir, por conhecimento deste processo de “substituição social”, o reforço da segregação socioespacial na sua sequência, aprofundando a divisão social do espaço urbano. A verdade é que a apropriação pontual do espaço, característica da gentrificação, introduz mudanças na escala da segregação sociorresidencial produzida. Esta far-se-á, doravante, e contrariamente ao que acontecia na cidade moderna, a uma escala micro de maior complexidade, baralhando o primórdio da divisão social da cidade em manchas homogêneas, inerente ao princípio de zonamento funcional associado à cidade industrial.
Assim, quando se assiste à emergência de empreendimentos destinados à habitação de grupos de estatuto socioeconômico mais elevado em bairros históricos de características essencialmente populares, verdadeiros enclaves de luxo no seio de áreas de residência de classes baixas, facilmente se conclui que a gentrificação é um exemplo de uma nova organização do espaço urbano, reforçando uma estrutura fragmentada, típica da cidade pós-moderna. Queremos, todavia, realçar que uma característica central das geografias pós-modernas da gentrificação é a fragmentação urbana, e que deriva da recentralização seletiva inerente ao processo. Essa fragmentação encontra-se presente quer na implantação pontual dos novos produtos imobiliários dirigidos aos potenciais gentrifiers, quer na apropriação socioespacial descontínua que o gentrifier faz do bairro e