Fuga do sofrimento psiquico

5676 palavras 23 páginas
Alguns pacientes mantêm-se firmes nessa recusa. Nesses

pacientes, a contradição em suas histórias não lhe causa estranheza. De fato, o estranho se apresenta ao analista, que se vê numa

relação imóvel, com poucas possibilidades de rompimento. Como

a categoria do estranho se refere a algo que não se sabe como

abordar

1

, a primeira tendência do analista é qualificar essa situa-

ção como uma resistência à análise.

O estranho remete a um pequeno deslocamento em relação

à realidade. Em seu artigo O Estranho, Freud (1919/1996a) utiliza o

conto O Homem da Areia de Hoffman para explorar a vinculação

da noção de estranho com o que é conhecido e familiar aos processos psíquicos que o originam, ainda que assustadores:

O sentimento de algo estranho está ligado diretamente à

figura do Homem da Areia, isto é, à idéia de ter os olhos

roubados, e que o ponto de vista de Jentsch, de uma

incerteza intelectual, nada tem a ver com o efeito. A incerteza quanto a um objeto ser vivo ou inanimado, que

reconhecidamente se aplica à boneca Olímpia, é algo irrelevante em relação a esse outro exemplo, mais chocante, Revista Mal-estaR e subjetividade – FoRtaleza – vol. viii – Nº 4 – p. 1099-1119 – dez/2008

o ReFúgio psíquiCo CoMo o estRaNho ReCuRso da ResistêNCia 1103

de estranheza. É verdade que o escritor cria uma espécie

de incerteza em nós, a princípio, não nos deixando saber,

sem dúvida propositalmente, se nos está conduzindo pelo

mundo real ou por um mundo puramente fantástico, de

sua própria criação (Freud, 1919/1996a, p. 248).

Mas que estranha resistência é essa que sustenta a relação?

O que mais ela comunica para além da estagnação do processo

analítico? Será que não é pela resistência que encontraremos as

condições de descobrir o paciente, aparentemente “escondido”

em algum lugar?

Freud (1919/1996a) refere que o estranho não aponta para

algo novo, mas para algo que é familiar e há muito tempo

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