Filosofia
E A MORALIDADE
Jordino Marques
Universidade Federal de Goiás jordino@terra.com.br Resumo: Este trabalho é uma reflexão sobre a teoria da harmonia universal de Leibniz, procurando mostrar como esta parte significativa do pensamento leibniziano tem repercussões em suas concepções morais, na medida em que o homem é elemento integrante de um universo harmônico.
Palavras-chave: Leibniz, harmonia, religião, moralidade, liberdade.
A filosofia de Leibniz é, desde seu início, o desenvolvimento de uma teoria da harmonia que se explica em diferentes níveis.
Tentemos, primeiramente, mostrar como se estrutura esse pensamento no sistema leibniziano e, ao mesmo tempo, relacionar sua problemática com a questão da moralidade.
A leitura da obra mostra como se pode realizar, na atividade intelectual multifacetada do autor, a idéia de ligação de diferentes regiões e diferentes realidades a uma idéia propulsora. Essa visão se torna patente na filosofia leibniziana na medida em que ela mostra a tentativa de reconciliação entre Descartes e Aristóteles, entre filosofia e fé, e entre países e principados e a Europa de seu tempo.
Por isso, a filosofia de Leibniz é marcada pelas expressões conciliatio, concordantia, accord e conformité, Proportion e Ordnung, e isso acontece de maneira tão intensa que podemos classificar a harmonia como determinante de sua concepção do mundo.1
Chama a atenção, contudo, o fato de que a filosofia de Leibniz não tenha sido caracterizada fundamentalmente como teoria da harmonia, mas como monadologia, embora ele próprio a tenha
PHILÓSOPHOS 8 (2) : 219-230, jul./dez. 2003
Recebidoem 1 de outubro de 2003
Aceito em 5 de novembro de 2003
Jordino Marques
chamado de filosofia da harmonia, que acaba sendo não só a harmonia preestabelecida, como também a harmonia universal.
Há na história da filosofia uma pré-história da noção de harmonia que pode ser percebida nos primórdios pitagóricos, nos mitos que