Filosofia e fé cristã

3576 palavras 15 páginas
RESUMO
O presente artigo procura analisar a noção de fé em Montaigne, confrontando-a com as idéias de razão e de crença, e também em sua relação com o lugar que é conferido à autoridade pelo autor dos Ensaios. Discute-se principalmente a interpretação bastante estabelecida de que o ceticismo de Montaigne reduziria a fé à esfera das crenças e dos costumes.
Palavras-chave: Montaigne, Ceticismo, Fé, Crença, Razão
Introdução
O pensamento de Montaigne nos é apresentado por interpretações tão clássicas quanto iluminadoras, por exemplo as de Hugo Friedrich e Jean Starobinski, como uma filosofia da pura imanência, do simplesmente humano, ou seja, no qual as questões ligadas à religião e à fé, pelo fato mesmo de serem inatingíveis à razão humana, perdem seu lugar. "Somos cristãos como somos perigordinos ou alemães" — esta frase lapidar da "Apologia de Raymond Sebon"1 sintetizaria, afinal, a questão da religião e da fé em Montaigne. Sobre isso, Starobinski escreve: "(...) no melhor dos casos, a fé cristã pode ser respeitada no costume em que se converteu — na falta de uma certeza melhor".2 A fé seria, então, assimilada à esfera das crenças e a religião aos costumes: como regra de vida, Montaigne recomendaria, sem mais, o preceito cético de "seguir os costumes de seu país".
Esta visão parece-nos tão verdadeira quanto limitada. Verdadeira no sentido de que, sem dúvida, os Ensaios se desenvolvem na esfera do meramente humano, como seu autor escreve em "Das preces": "Proponho idéias humanas e minhas, simplesmente como idéias humanas (...), o que penso segundo eu mesmo, e não o que acredito segundo Deus" (I, 56, 323/482). Temos aqui expressão de um pensamento indiscutivelmente laico: de fato, nos Ensaios, o que a Igreja dispõe sobre o arrependimento ou as orações é, digamos assim, colocado entre parênteses como a verdade indiscutível — porque acima da razão humana — da autoridade; enquanto a presença, no cotidiano da vida humana, das tentativas de arrepender-se e da

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