eramos seis

A morte Chegando em casa a pequei chorando. Já fazia um mês, mas nesse horário, ela sempre chorava. Hoje ela chorava debruçada na vassoura, de pé. Parecia estar varrendo o quarto quando a crise começou. Olhei para o relógio, era o horário que ele chegava em casa. Vi então que aquilo iria longe. Eu também sentia falta do papai, e às vezes, admito, chorava. Mas a mamãe... Era de quebrar o coração. Ela chorava um choro tão quieto e tão silencioso, parecia não querer chamar atenção. Mas no fundo daquela discrição, havia um tamanho desespero e uma tristeza que saia pelos olhos misturada à saudade. Sabia que por dentro, seu coração se apertava todo e um nó lhe entalava a garganta. Sabia que aquele sentimento lhe saia queimando pelos olhos. A morte é uma coisa complicada. Alguns julgam como o único modo de lidar com a vida. Ou a única escapatória dela. Mas ninguém sabia ao certo como lidar com ela. Os médicos tentavam retardar sua chegada. Os cientistas explicar sua existência. Os religiosos, para onde ela nos leva. Mas a pura verdade é que nunca saberemos quando, como, onde ou porque ela vem. Foi o que aconteceu com papai. Ele dormiu naquela quarta à noite, e simplesmente não houve para ele uma quinta feira. E meio que para a mamãe também não. Quer dizer, ela não morreu , mas parou de viver. Naquela quinta, ligaram do escritório que ele trabalhava, ligaram do consultório que ele ia, ligaram pessoas da família que eu não via há anos. Não sei como a mamãe conseguiu lidar com toda aquela gente, toda aquela gente chata, Toda aquela gente que não se importava e também com as que se importavam. Toda a gente que ela nunca viu e as que ela via todo dia. Quem ela gostava e quem ela não gostava. Gente que foi para apoiar, gente que foi por obrigação e gente que estava realmente triste. O tempo depois disso passou muito devagar, ficou difícil pregar os olhos sabendo que minha mãe estava chorando no sofá. Não que o barulho do choro me atrapalhasse,