Dor e seus extremos
A compreensão do fenômeno doloroso sempre preocupou a humanidade. Conhecer a trajetória histórica das inúmeras tentativas para compor as peças deste complicado quebra-cabeças permite refletir sobre as bases do conhecimento que culminaram nos conceitos e teorias modernas.
Para os homens primitivos as doenças dolorosas ou causadas por objetos estanhos eram atribuídas a fluidos mágicos, demônios e espíritos, e seu tratamento resumia-se na retirada de possíveis objetos estanhos e no uso de amuletos, conjurações feitiçarias para apaziguar ou afugentar os demônios que causavam a dor (Tainter, 1981 apud Bonica, 1990).
A ideia de que o coração era o centro das sensações originou-se no antigo Egito, onde se acreditava que a doe era causada por influência dos deuses e dos espíritos mortos e onde uma rede de vasos chamada “metu” levava o sopro da vida e as sensações do coração (Wreszinski, 19092 apud Bonica, 1990).
Na Grecia antiga Hipócrates postulou a existência de quatro humores: sangue, flegma, bile amarela e bile negra que quando desiquilibrados resultavam em dor (Keele, 19573 apud Bonica, 1990).
Para Platão e Aristóteles, dor e prazer eram sensações opostas, residiam no coração e eram paixões da alma.
As ideias de Hipócrates foram disseminadas por todo o mundo então conhecido, especialmente em Alexandria, no Egito, quando a permissão da prática de dissecação permitiu a Herófilo e Erasistrato encontrarem evidências anatômicas de que o cérebro era parte do sistema nervoso e que possuía dos tipos de nervos: motores e sensitivos (Rey, 1995).
Quatro séculos depois, na Roma antiga estes conhecimentos abriram caminho para o trabalho de Galeno (século ll), que estudou fisiologia sensorial e reafirmou a importância do sistema nervoso central periférico. Para Galeno a doe era um sinalizador da existência de alterações nos órgão internos ou ambiente externo e possuía portanto a função de alertar e proteger os seres vivos.
A idade média foi dominada em